Da Redação/Olharjurídico
A recente descoberta de farelo de soja contaminado com areia no porto de Paranaguá (PR) trouxe à tona uma complexa rede de negócios envolvendo gigantes do agronegócio brasileiro. Documentos obtidos por essa reportagem confirmam que o material apreendido na esmagadora de soja da Queiroz Agro, na verdade pertence à Engelhart CTP Brasil S.A. (ECTP), conhecida como BTG Pactual Commodities S.A, com sede em Londres.
E os desdobramentos do caso apontam que o BTG Pactual, atuante no mercado brasileiro de compra e venda de commodities agrícola, nutre uma forte ligação com o Grupo Safras, tradicional empresa do setor agrícola mergulhada em uma crise financeira de proporções bilionárias. A conexão entre os dois grupos não é nova. Nos últimos anos, conforme a crise financeira do Safras se tornou pública, o BTG passou a desempenhar papel central nas operações da empresa mato-grossense.
Os documentos mostram ainda que a ECTP, ou seja, o BTG Pactual Commodities, tem recebido grandes volumes de sojas provenientes do Safras. A manobra ocorre em função do grupo de Mato Grosso estar impedido de operar diretamente devido a inúmeras execuções judiciais movidas por credores insatisfeitos. Produtores rurais da região da BR-163 relatam que estão sem receber pelos grãos entregues ao Safras há mais de um ano.
O Safras é liderado pelo ex-prefeito de Sorriso (MT), Dilceu Rossato, e estima-se que a dívida ultrapasse R$ 2,5 bilhões, atingindo principalmente pequenos e médios produtores. Nos últimos dois anos, o grupo transferiu dois de seus principais ativos – os armazéns de Novo Mundo e Boa Esperança, ambos em MT – para a BTG Pactual. A parceria se estende ainda para uma esmagadora em Cuiabá, onde toda a soja processada entra em nome da ECTP, reforçando a dependência do Safras em relação ao banco.
Nova gestão e fundo de investimento
Recentemente, surgiram rumores de que o controle do Safras teria sido adquirido pelo Flowinvest, um fundo de investimentos com sede no Paraná, mas com forte atuação em Mato Grosso e São Paulo. O fundo, supostamente apoiado pelo próprio BTG Pactual, prometeu injetar milhões para aliviar as pressões judiciais sobre o Safras. Como parte dessa reestruturação, o grupo anunciou a chegada de Carlos Eduardo de Grossi Pereira, conhecido como "Cacá", como novo CEO.
Cacá, um ex-executivo da GT Foods – empresa que entrou em recuperação judicial deixando um rombo bilionário no Paraná –, é visto como uma indicação direta do Flowinvest. Tanto ele quanto o fundo têm ligações com Maringá (PR) e já atuaram juntos na GT Foods, levantando suspeitas sobre os métodos empregados para lidar com crises financeiras. O Flowinvest também tem chamado atenção por sua atuação ambígua.
Ocorre que ora se apresenta como novo acionista do Safras, indicando mediadores para negociar acordos com produtores rurais; ora aparece como credor do grupo, reivindicando centenas de milhões em dívidas. Esse modus operandi lembra outro caso controverso em Mato Grosso: a recuperação judicial do Frigorífico Redenção, onde o mesmo grupo esteve envolvido.