Fernanda Giacomassi, G1
Perder aquela ‘barriguinha’ insistente é uma das metas mais buscadas pelos brasileiros com a chegada do verão. Mas o acúmulo de gordura abdominal vai além de uma questão estética: ele pode ter impactos significativos para a saúde, aumentando o risco de doenças cardíacas e metabólicas, como hipertensão arterial e diabetes.
Mas antes, é importante entender que há dois diferentes tipos de gordura que se alojam na região:
Gordura subcutânea: É a gordura localizada logo abaixo da pele e está presente em várias partes do corpo, como coxas, braços e, também, na região abdominal. Embora não esteja diretamente associada a problemas de saúde graves, seu excesso pode contribuir para o aumento do peso corporal e para o surgimento do que muitas pessoas chamam de "pochete".
Gordura visceral: É a gordura localizada entre os órgãos internos, como fígado, pâncreas e intestinos. Diferente da gordura subcutânea, está ligado ao desenvolvimento de doenças metabólicas, como hipertensão e diabetes tipo 2. Ela forma uma "barriga dura", ou o que se costuma chamar de "barriga de chope", que não dobra como a gordura subcutânea e é mais difícil de perder.
Como e onde a gordura será acumulada depende de fatores hormonais, genéticos e de estilo de vida.
"Existem famílias que acumulam gordura no corpo todo e outras que acumulam predominantemente na região central. E os hormônios femininos, por exemplo, promovem um formato com mais quadril e coxas, protegendo um pouco contra a gordura visceral", explicou ao g1 Maria Edna de Melo, Endocrinologista do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
“Mas um vilão, amplamente reconhecido, é o álcool. O consumo de álcool provoca uma mudança na distribuição de gordura, elevando o acúmulo central".
Como perder a barriga?
Nosso corpo acumula gordura quando ingerimos mais calorias do que conseguimos gastar no dia a dia, explica a especialista. Esse excedente de calorias é armazenado, e, dependendo da predisposição genética ou hormonal de cada pessoa, a barriga se torna o principal "depósito".
Para perder barriga, é preciso seguir o caminho aposto e consumir menos calorias do que se gasta, criando o chamado déficit calórico.
"Para isso, é importante ficar atento, principalmente à alimentação. Controlar o estímulo, ou seja, evitar ficar muito exposto a alimentos ultraprocessados, açúcar. Se o alimento está disponível, a gente acaba comendo", afirma Maria Edna de Melo.
Manter uma rotina saudável, com exercícios físicos constantes, também colabora positivamente para o equilíbrio na balança.
"Um dos erros mais comuns é acreditar que apenas a restrição alimentar será suficiente para reduzir a gordura corporal de maneira saudável. De fato, com o tempo, a gordura pode diminuir, mas a musculatura também é afetada", explica ao g1 Celso Cukier, nutrólogo do Hospital Israelita Albert Einstein.
"Isso pode levar a um desequilíbrio, fazendo com que o percentual de gordura do corpo permaneça semelhante ao que era antes. Por isso, a prática regular de atividade física deve ser constante em nossa vida, aliada a uma alimentação equilibrada, rica em grãos e vegetais, com menos gordura saturada e menos sal”.
Mitos e verdades sobre a gordura abdominal
Os especialistas esclareceram frases comuns associadas a perda de gordura na região abdominal. Confira:
“É mais difícil emagrecer na barriga do que em outras regiões”
Na verdade, não é bem assim. Embora a gordura abdominal seja considerada mais prejudicial à saúde do que a gordura distribuída pelo corpo, ela tende a ser reduzida mais rapidamente durante o processo de emagrecimento.
“Quando perdemos peso, a gordura abdominal é a primeira a ser eliminada porque possui uma atividade lipolítica (processo de quebra de lipídios ou gorduras no organismo) mais elevada e sensível do que a que se concentra em regiões como coxas ou quadril”, explica Maria Edna de Melo, do HC.
“É possível prever em quanto tempo eu vou perder a barriga”
Desconfie de dietas milagrosas que prometes o desaparecimento quase instantâneo da gordura abdominal. Na verdade, cada indivíduo responde de um jeito ao emagrecimento.
"Vai depender muito, por exemplo, de como que está a alimentação da pessoa, se ela tem um basal maior [capacidade maior de queimar calorias em repouso] e, claro, do peso inicial. Para uma pessoa de perder 100 kg, perder 7kg é uma coisa. Já para alguém que tem 70 kg ,7kg é 10% do peso, é bem diferente e mais difícil”, explica a especialista.
“Fazer abdominais ajuda a emagrecer”
Abdominal não faz perder barriga diretamente, só ajuda a melhorar a musculatura do abdômen. Mas, ele é, claro, parte da rotina de exercício que vai contribuir para uma vida mais saudável.
“Atividade física deve ser parte da rotina diária. Eu costumo dizer que existe um tripé fundamental: atividade física, boa alimentação e higiene — tanto pessoal quanto mental. Se seguimos essas três bases, temos uma chance muito maior de levar uma vida saudável e de nos mantermos afastados de diversas doenças associadas”, explica o nutrólogo Celso Cukier.
Mas atenção: para ver resultado no emagrecimento, é essencial que a prática de exercício físico seja consistente e realizada com a intensidade adequada.
“Muitas pessoas acreditam que uma simples caminhada será suficiente, mas o gasto calórico que ela proporciona é relativamente baixo. Por exemplo, se alguém caminha por uma hora e, ao voltar, consome um pão com manteiga, essa pessoa precisaria caminhar por mais meia hora apenas para compensar esse alimento”, afirma Maria Edna de Melo, do HC.
“Dormir mal engorda”
A privação de sono pode contribuir para o ganho de peso, pois altera os ritmos hormonais do corpo.
“Por exemplo, quem sofre de apneia do sono, condição frequentemente associada ao aumento de gordura visceral, tende a apresentar níveis elevados de cortisol. O cortisol, conhecido como o hormônio do estresse, favorece o acúmulo de gordura, especialmente na região visceral", conclui a endocrinologista.