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GERAL Segunda-feira, 28 de Abril de 2025, 09:08 - A | A

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GERAL / CLIMA SOCIOAMBIENTAL

Um ano após enchentes, gaúchos celebram conquista de novas casas

Compra Assistida atinge 1,5 mil beneficiários, mas demanda é de 22 mil

Agencia Brasil
Rio Grande do Sul/Brasil.



Aos 54 anos, a cozinheira Luciane da Rosa Bairros não conseguiu conter a emoção ao assinar o contrato e receber as chaves da casa nova. Poderia ser uma história típica de quem conquista um imóvel, mas ela é uma das milhares de vítimas das enchentes de maio de 2024, no Rio Grande do Sul. Ex-moradora do bairro Moinhos, em Estrela, no Vale do Taquari, Luciane viu sua casa sucumbir à força das águas.

"Tivemos que sair de casa com a roupa do corpo. Lá não sobrou nada, o bairro foi praticamente varrido do mapa e nós perdemos tudo. Não tem um dia que eu não penso no meu bairro, nos meus amigos, nos meus vizinhos", contou à Agência Brasil, sob lágrimas. 

A reportagem conversou com Luciane em uma agência da Caixa Econômica Federal, na cidade vizinha de Lajeado, na última semana. Mas, dessa vez, as lágrimas eram mais de alegria mesmo. Após viver por quase 12 meses entre abrigos e casas alugadas, ela agora pode finalmente retomar a rotina em uma residência própria, viabilizada por meio do programa de Compra Assistida, uma modalidade criada pelo governo federal para atender às vítimas da catástrofe sem precedentes que se abateu sobre a população gaúcha no ano passado.

"Ganhei minha casa e, se Deus quiser, vai ser um centro de bênçãos para mim. E não vou mais precisar passar por isso, né?", acrescentou a cozinheira, que espera dar mais dignidade ao filho e aos dois netos menores de idade, que vivem com ela. A moradia escolhida fica em um bairro bem próximo do que viviam antes, mas fora da área de risco.

Ritmo de entregas

"Essa modalidade do Compra Assistida foi criada especificamente para a tragédia aqui do Rio Grande do Sul, e permite que as famílias escolham o seu imóvel em qualquer cidade do estado, desde que preenche os requisitos, no valor de até R$ 200 mil", explicou, em entrevista à Agência Brasil, o secretário de apoio à reconstrução do Rio Grande do Sul, Maneco Hassen.

A pasta do governo federal é vinculada à Casa Civil e sucedeu a Secretaria Especial criada no ano passado, com status de ministério, que vigorou por cerca de cinco meses, durante o estado de calamidade pública, tendo o ex-ministro Paulo Pimenta à frente da função durante o período.

Até o momento, segundo Maneco, foram assinados pouco mais de 1,5 mil contratos do Compra Assistida em todo o estado. Essa estratégia se soma à construção de novas moradias pelo Minha Casa, Minha Vida, que já autorizou 7,5 mil unidades habitacionais em diferentes estágios de construção. A necessidade estimada pelo secretário é de 22 mil imóveis para atendera toda a demanda do estado. 

"Depois que a gente alinhou os processos, e que as prefeituras conseguiram nos enviar a maioria dos cadastros e dos laudos comprovando a destruição do imóvel, o programa ganhou ritmo e a gente tem toda semana feito atos de entrega pelo Rio Grande do Sul", assegurou Maneco Hassen.

Retomada

Quem também não conteve a emoção foi o casal Marlize Inês Machado e Celso Antônio Machado. Eles também eram moradores de Estrela e viram a correnteza do Rio Taquari destruir completamente os dois terrenos da família, que incluíam duas casas, um mercadinho e um apartamento na parte superior do comércio. 

"A gente segue em frente, a luta continua, mas é importante recuperar uma parte do que perdemos", afirmou Celso.

Quando a enchente começou, ele decidiu permanecer até o último momento, mas saiu alertado por técnicos da Defesa Civil. Um de seus vizinhos decidiu ficar e até hoje está desaparecido. A nova casa está localizada na mesma cidade, mas em uma zona segura.

"Se eu tivesse ficado lá também não estaria aqui hoje. Eu agradeço muito o governo e todo mundo que nos ajudou", acrescentou.  

Da zona rural de Progresso, outro município da região do Vale do Taquari, o agricultor Sinírio Schneiger, de 70 anos, vai receber recursos para reformar sua casa, após anos suportando intempéries climáticas, como chuvas e seca extrema. Antes da tragédia do ano passado, todo o Vale do Taquari tinha sofrido duas enchentes seguidas, em setembro e novembro de 2023, que levaram 54 vidas.

"Passamos a vida inteira na roça e, por causa das dificuldades, não pudemos fazer uma reforma na casa, e deu muita chuvarada e tempestade [nos últimos anos]", contou Sinírio, pouco depois de assinar um contrato de subvenção de R$ 46 mil na modalidade Minha Casa, Minha Vida Calamidade, criada justamente para atender camponeses que sofreram situações de calamidade em 2023. Essa modalidade contempla tanto a reforma quanto a construção de nova casa, essa última no valor de R$ 86 mil.

"A gente sabe que toda família que tem um lar volta a ter dignidade, esperança, uma energia para olhar pra frente e refazer a vida", afirmou Caio Santana, da Cooperativa de Habitação Camponesa, vinculada ao Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) no Rio Grande do Sul. 

A entidade atua na articulação com o governo e a Caixa Econômica Federal para viabilizar a concessão dos benefícios. Ao todo, em todo o estado, cerca de 600 famílias serão contempladas com reforma ou construção de novas casas por meio desse programa. 



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