Alexandra Lopes/Folhamax
Vídeo divulgado pela Polícia Civil mostra o momento em que o advogado Pauly Ramiro Ferrari Dorado, de 45 anos, preso na Operação Patrono, chega na Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), em Cuiabá, para prestar depoimento. Ele é acusado de ser integrante da facção Comando Vermelho (CV-MT), envolvida em crimes de associação para o tráfico, fraude processual, falsidade ideológica, favorecimento pessoal e comércio ilegal de armas de fogo, entre outros.
Pauly Dorado é alvo principal das investigações conduzidas pela delegacia de Apiacás. Ele é investigado por integrar a facção juntamente com quatro detentos — dois homens e duas mulheres — que cumprem penas na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá, e no presídio feminino Ana Maria do Couto May, também na capital. As ordens judiciais, que incluem cinco mandados de prisão preventiva e quatro mandados de busca e apreensão domiciliar, foram expedidas pela Vara Única de Apiacás.
O cumprimento dos mandados conta com o apoio da equipe da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), da Delegacia Especializada de Repressão ao Crime Organizado (Draco), da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (Core), além dos policiais das delegacias de Paranaíta e Apiacás, e do Núcleo de Inteligência de Alta Floresta. A operação também teve o auxílio da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco). Os trabalhos são acompanhados pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MT).
Advogado da facção
As investigações apontaram que o advogado Pauly Ramiro Dorado era membro da organização criminosa, não apenas fornecendo assessoria jurídica aos integrantes, mas também atuando em diversas frentes, como a venda ilegal de armas de fogo e utilizando as prerrogativas de sua profissão para realizar consultas sobre pessoas a mando da facção, a fim de verificar se pertenciam a outra organização criminosa.
Ele também era responsável pelo resgate de drogas que não haviam sido apreendidas pela Polícia. Ao perceber que o cerco estava se fechando, os integrantes da facção criminosa contatavam o investigado, que atuava como intermediário entre os presos e outros membros, informando o local onde a droga estava escondida para que fosse retirada antes que as forças de segurança a descobrissem e apreendessem.
Pauly também atuava na recuperação de veículos roubados e furtados pela própria facção criminosa, recebendo valores de vítimas pela recuperação dos veículos, além de outros delitos apurados.
Cigarros na PCE
Em fevereiro deste ano, o advogado Pauly Ramiro Dorado foi preso em flagrante enquanto tentava entrar na Penitenciária Central do Estado com 1,2 quilos de cigarros escondidos no forro de seu paletó, sendo detido no momento em que passou pelo scanner corporal.
Em junho de 2023, ele foi encaminhado à Delegacia de Lucas do Rio Verde após ameaçar um promotor de justiça durante uma sessão do Tribunal do Júri. Em uma de suas atuações como advogado, ele arquitetou uma farsa em que uma presidiária estaria grávida para conseguir a prisão domiciliar, que acabou não sendo deferida pela Justiça, resultando no nascimento do bebê dentro da penitenciária.
Patrono do Crime
O nome da operação faz alusão à distorção da função constitucional do advogado, que, neste caso, utilizava seu conhecimento jurídico e prerrogativas profissionais não para a defesa do direito, mas para facilitar, proteger e fomentar a atividade criminosa organizada, em violação frontal aos deveres éticos e legais da advocacia.
A operação integra as ações de planejamento estratégico da Polícia Civil de Mato Grosso para combater a atuação das facções criminosas, por meio da Operação Inter Partes, dentro do programa Tolerância Zero do Governo do Estado.