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Enquanto alguns produtos exportados para os Estados Unidos correm risco de sofrer com taxações durante a nova gestão do presidente americano, Donald Trump, os embarques de carne bovina do Brasil não devem ser afetados. Pelo contrário, há potencial para crescimento nas vendas aos EUA neste ano e nos próximos.
A avaliação é do presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa. Ao Valor, o dirigente afirmou que o ciclo de baixa oferta de gado bovino nos EUA deve atingir o pico em 2025 e se estender ao menos até 2027. Isso significa que o país tende a continuar demandando o produto do Brasil, que é o fornecedor com maior oferta e competitividade atualmente.
“A carne bovina é considerada um item essencial nos EUA. Falar para um americano que ele precisa diminuir o consumo de hambúrguer seria o mesmo que falar para o brasileiro parar de comer arroz e feijão”, afirmou.
No ano que passou, as vendas externas de carne bovina do Brasil alcançaram 2,89 milhões de toneladas, incremento de 26,2% e um novo recorde, conforme dados do governo federal compilados pela Abiec.
Os Estados Unidos ocuparam a segunda posição entre os principais destinos de exportação, atrás apenas da China, e importaram 229 mil toneladas, um salto de 65,14% sobre 2023. O faturamento com o produto embarcado aos EUA somou US$ 1,35 bilhão, avanço de 59%.
Num cenário de oferta de gado restrita nos EUA e patamar considerado atrativo para os preços das commodities que compõem a ração animal, como farelo de soja e milho, o Brasil deve obter ganho de produtividade, a ponto de se tornar o maior produtor de carne bovina do mundo, de acordo com Perosa. Hoje, o país é o maior exportador da proteína, mas ainda está atrás dos americanos em volume de produção. “Este ano talvez a gente tenha um volume de abate menor [que em 2024], mas com aumento de produção, com mais produtividade, por causa do preço dos grãos”, disse Perosa.
Dessa forma, mesmo com a virada no ciclo pecuário para menor oferta, esperada para o Brasil neste ano, o país conseguiria manter o ritmo elevado de exportação de carne bovina.
Hoje 70% da produção nacional de carne é consumida no mercado brasileiro e os cortes enviados ao exterior são, majoritariamente, miúdos e dianteiros.
Perosa, que assumiu a liderança da Abiec neste mês, afirmou que a entidade está em processo de internacionalização. “Vamos abrir três escritórios, um em Washington, um em Bruxelas e outro em Pequim”. A ideia é acelerar a busca por novos mercados e melhorar as relações do Brasil, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex).
Um dos mercados-alvo dos exportadores é o Japão, que Perosa deve visitar em fevereiro.