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AGRONEGÓCIOS Terça-feira, 01 de Outubro de 2024, 09:31 - A | A

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El Niño reduz chuvas e impacta produtividade da soja no Cerrado

Pesquisa realizada por especialistas da Embrapa analisou série histórica de 1974 a 2022 e comprovou impacto direto sobre a cultura.

Marcos Fantin/GloboRural



Pesquisadores da Embrapa identificaram e quantificaram de que forma o El Niño, caracterizado pelo aquecimento da superfície do mar no Oceano Pacífico, muda o regime de chuvas e, consequentemente, a produtividade da soja em uma região do Cerrado brasileiro.

A pesquisa encontrou a relação entre os anos de El Niño com uma redução significativa na chuva acumulada nos meses de outubro, novembro e dezembro, na região administrativa de Planaltina, no Distrito Federal. A série histórica analisada foi de 1974 a 2022.

O estudo foi publicado na Revista Agrometeoros, e liderada por Alfredo Luiz, da Embrapa Meio Ambiente (SP), e Fernando Macena, da Embrapa Cerrados (DF).

Os resultados apontam uma média nos anos de El Niño de 372 milímetros de chuva, 40% inferior à média dos anos de La Niña,que registraram 623 milímetros. “Foi impressionante constatar que a mudança na temperatura da superfície de um oceano distante milhares de quilômetros do planalto central brasileiro altera de forma tão impactante a chuva nessa região”, observa Luiz.

Metodologia

Os cientistas utilizaram os valores mensais de um índice fornecido pela Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), que traz uma média da temperatura da superfície do mar no Oceano Pacífico chamado Indicador Oceânico Niño (ION). Foram considerados os 12 valores de ION de cada ano, desde 1974 até 2022.

O grupo em que os valores mensais do ION foram predominantemente maiores que +0,5°C foi considerado como “anos de El Niño”. Da mesma forma, o grupo em que predominaram variações menores que -0,5°C foi denominado de “anos de La Niña”. Por fim, os grupos sem predominância de valores maiores que +0,5ºC ou menores que -0,5°C, foram chamados de: fim de El Niño; neutro; e início de La Niña.

Com os grupos separados, os pesquisadores calcularam a média da quantidade de chuva acumulada nos meses de outubro, novembro e dezembro, que é o principal intervalo relacionado ao ciclo vegetativo da soja na região.

Para complementar o estudo, os cientistas usaram um simulador de crescimento e rendimento de plantas alimentado com o clima, solo e planta, considerando o plantio de duas variedades de soja no solo dos campos experimentais da Embrapa Cerrados.

Com o uso desse modelo computacional, eles puderam simular a produtividade da soja para plantios em diversas datas, de setembro a dezembro, em todos os anos.

O trabalho inferiu que a produtividade da soja sempre foi muito inferior no grupo de anos de El Niño em comparação com os demais grupos, diferença que foi ainda mais evidente quando o plantio simulado se deu nos meses de setembro e outubro.

No pior caso, quando semeada no início de setembro, a cultivar de soja BRS 8383IPRO produziu, em média, 2.418 kg por hectare nos anos de La Niña e apenas 493 kg por hectare nos anos de El Niño.

“O estudo comprovou que os efeitos das fases dos fenômenos variaram de acordo com a data de semeadura na região de Planaltina, quando as fases do El Niño tiveram impacto negativo na produtividade da soja nas primeiras datas de semeadura e resultados opostos foram encontrados para anos de La Niña”, afirma o pesquisador da Embrapa Cerrados.

Próximo passo

Segundo os pesquisadores, os sistemas de alerta precoce e as ações antecipadas podem ajudar a reduzir os impactos negativos das condições meteorológicas causadas pelos dois fenômenos.

Agora, o próximo passo será identificar os períodos-chave anteriores ao plantio da soja, nos quais a variabilidade do Indicador Oceânico Niño (ION) ou de outro indicador do El Niño ou La Niña esteja relacionada com a produtividade da soja.

Isso pode servir “de forma que os tomadores de decisão possam planejar alternativas de manejo, data de plantio, mudança de cultura ou ciclo de cultivar para reduzir os prejuízos com possíveis efeitos adversos”, destaca Alfredo Luiz, da Embrapa Meio Ambiente.



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